sábado, 20 de novembro de 2010

Desenvolvimento de pessoas: um segredo para todos os momentos

Por Paulo Cesar Martin Guimarães

Nos tempos de bonança, de crescimento e de prosperidade, em função do forte impacto da economia de mercado, as empresas e as pessoas (lideranças e equipes) são exigidas e desafiadas, a cada dia, a cumprirem metas ambiciosas e exigentes, ou seja, superarem seu nível de performance. Na maioria das vezes, isso ocorre de forma abrupta, sem uma preocupação com a integração e o alinhamento topo-base, sem receber informações sobre a situação, andamento do negócio e sem um preparo e treinamento para o exercício adequado da função. Muitas vezes, as pessoas também são lançadas aos desafios sem um conhecimento prévio do que as empresas esperam delas, em termos de postura, para saber lidar com um ambiente de trabalho mais competitivo e imprevisível.

Nestes momentos de fortes emoções e interesses, os profissionais de RH são acionados, quase sempre de última hora, sem planejamento, para atuarem como apoio e oferecerem "remédios" que possam, milagrosamente, em curto espaço de tempo, atender às necessidades das empresas e/ou áreas funcionais, em termos de desenvolvimento das pessoas e, consequentemente, engajamento ao "boom" empresarial. Exige-se deles que conquistem bons resultados, nesse ambiente de "corre-corre", quando as pessoas precisam "matar um leão por dia". É como se o tempo de preparação, o alinhamento com o foco empresarial e a integração humana pudessem acontecer como num passe de mágica.

O processo de desenvolvimento e de estímulo ao surgimento de líderes não acompanha o tempo do relógio, pois se tornam necessários descobrir primeiro o potencial e talento das pessoas, para depois oferecer a elas treinamentos técnicos, comportamentais e gerenciais, de forma a estarem preparadas para atenderem aos dois pilares básicos de sustentação ao processo de gestão: a competência técnica e a competência interpessoal.

É comum assistirmos nas organizações muitos talentos serem lançados, precipitada e imaturamente, num turbilhão de exigências e interesses empresariais, correndo-se o grande risco de perdê-los, por não estarem ou se sentirem preparados para tal situação. Emergem, então, os sinais de desmotivação, abala-se a autoestima e, aos primeiros sinais de fracasso ou vulnerabilidade, acabam sendo rotulados no meio empresarial como profissionais que não reúnem o perfil desejado ou exigido para a função. Diante deste cenário, acaba sendo um entra e sai de profissionais que não são adequadamente preparados e aproveitados.

Às vezes, assistimos o esquecimento por parte da gestão empresarial da grande importância que é o investimento nas lideranças, que serão molas mestras para que todos os processos funcionem adequadamente. São eles os agentes de mudança, esteios para as outras pessoas, energia motivadora, disseminadores das informações e foco empresarial, alicerce e modelo para a constituição e equilíbrio de toda a equipe.

Além disto, nos momentos de "crise no mercado", de incertezas em relação ao negócio, percebemos que há um forte movimento de sobrevivência empresarial, surgindo daí a concretude das ações, tais como: racionalização, cortes em orçamentos, demissões e pouco ou praticamente nenhum investimento no desenvolvimento das pessoas e, consequentemente, das equipes. É como se houvesse um movimento de regressão no clima organizacional e no estado de espírito das pessoas que, sem uma estimulação de crescimento, tendem a ficar recolhidas, escondidinhas em seus cantos, até que a onda passe e não as pegue.

Nesses momentos críticos, os profissionais de RH são confundidos como muros de lamentação e socorro emocional, ouvindo as pessoas ou, até mesmo, as fofocas que surgem quanto à sua permanência na empresa, principalmente porque, historicamente, ficam vulneráveis e se tornam alvo dos primeiros cortes. Bloqueia-se e se esquece de tudo que até muito pouco tempo atrás era o objetivo a ser realizado: capacitação, treinamento e desenvolvimento de pessoas.

Todos nós sabemos, contudo, que uma empresa não é criada só para viver em períodos de bonança e que deveria se ter uma estratégia empresarial, para se conviver com os abalos do mercado de uma forma menos devassadora. Os negócios e a sua condução não deveriam ser tão vulneráveis, assim como as pessoas que são, em suma, as grandes responsáveis e condutoras dos processos.

Passado o tsunami, quando as coisas voltarem ao estado normal no mercado e nas expectativas empresariais, após este brutal desaquecimento das energias, sentimento de descrença, perda de autoestima etc., as pessoas serão reconvidadas a se reaquecer e ter de volta as forças necessárias para engajar e fazer acontecer. É atribuído aos líderes, neste momento, a missão de serem os maestros deste novo movimento de gestão, requerendo deles um resgate no seu próprio íntimo abalado das convicções perdidas, para só então voltarem a atuar como disseminadores de crença e confiança para as suas equipes.

Pensando nesses cenários voláteis, até mesmo como alguém que já assistiu de perto várias vezes esta realidade, fortemente vem à minha mente o convite para que façamos uma reflexão importante: INVESTIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DAS PESSOAS É UM SEGREDO PARA SEMPRE! O homem é, na verdade, a grande alavanca empresarial de todos os tempos, que mantém o "time" ganhando e, também, o esteio de forças e sabedorias para saber conviver com os momentos difíceis e turbulentos. Sendo assim, as empresas deveriam saber manter melhor o equilíbrio nas ações de desenvolvimento humano, para não correrem o risco de abalarem a ecologia desta natureza. Mesmo em tempos de crise, com "pé-no-chão", tem-se que manter o pensamento estratégico e positivo. É importante não se abater, cuidando das pessoas e aproveitando as oportunidades.

Por exemplo, muitas organizações se preparam antecipadamente, nos tempos estáveis, para aproveitarem os tempos de entressafra, para investir na organização interna e na preparação do seu "time", na espera de novos desafios... Transformam esse tempo de baixa demanda, produtividade e baixo astral em algo produtivo.

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